Autor(es): Arthur Machen
Sinopse: Por mais que não se aprecie Lovecraft, em um ponto, uma de suas realizações beneficia qualquer interessado em literatura gótica.Refiro-me ao ensaio “O horror sobrenatural na literatura”, escrito em 1923 e posteriormente ampliado em 1927 (publicado há cerca de 20 anos pela lamentavelmente extinta editora Francisco Alves).Lê-lo é como explorar uma grande arca e nela descobriremos vários tesouros.Um dos maiores é o galês Arthur Machen.Outra vez precisamos agradecer a editora Iluminuras por seu corajoso ato de nos proporcionar a única obra deste excelente autor disponível no Brasil.Trata-se de “O terror”, lançado em 2002 e que (INJUSTAMENTE) permanece desconhecido nas prateleiras das livrarias.Por outro lado, como muitos que já o conheciam, eu me pergunto se não seria melhor apresentar Machen ao leitor brasileiro com obras mais significativas, como o clássico “The great god Pan” ou “The White People” (as duas caberiam num mesmo volume), ou “The three imposters” (classificada pelo escritor argentino Jorge Luís Borges como uma secreta obra prima) ao invés do conjunto de pequenas narrativas (cada uma tendo em média quatro páginas) “Ornamentos em jade”, que mesmo nos países de língua inglesa foi publicado apenas em 1927 (de acordo com a nota de editora).Seria um movimento mais coerente, e talvez mais lucrativo.Não que “O terror” seja ruim.Muito pelo contrário.As narrativas também possuem alguns pontos altos como “Tortura”, mas combater obscuridade com mais obscuridade é algo questionável.E é provável que a publicação destas obras não esteja nos planos da editora, pois no (excelente) posfácio/biografia “A demanda do mistério”, incluído no livro, há resumos de todas estas obras, onde seus argumentos e inclusive seus desfechos são revelados.Ainda assim, vale a pena (e muito) ler “O terror”.Inexplicáveis mortes acontecem ao redor do País de Gales no período da Primeira Guerra Mundial.Civis, soldados e até mesmo aviões são atacados.O terror atinge a todos, de crianças a adultos.Quem será seu autor?Durante a história, teorias engraçadas e sérias são levantadas pelos personagens, mas a mais inverossímil é a verdadeira, embora ela nos seja revelada apenas nas últimas páginas.Muitos execravam Machen em sua época, taxando-o como um imitador barato de Robert Louis Stevenson.Mesmo se isso fosse um problema, ele já merecia todos os méritos, pois o estilo lírico, preciso e econômico do mestre Stevenson é muito difícil de ser copiado, e isso é feito que apenas outro grande autor poderia realizar.Além do fato de Machen ser especialista em gerar tensão, e suas nostálgicas descrições do país de Gales serem belíssimas. Num ensaio disponível nesta página http://www.waldeneast.fsnet.co.uk/interpenetrations.htm, o autor utiliza-se de uma citação num artigo escrito em 1964, que afirma que o único e grande enredo que Machen utilizava era “rasgar o véu”.Talvez o que encontramos por detrás dele nos maravilhe, talvez não, mas a maneira repleta de suspense aliada a um nível de terror que se desenvolve num maravilhoso “crescendo”, vai fazer com que você não se arrependa de tê-lo acompanhado.